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domingo, 27 de outubro de 2013

Doces Barbaros

Um comentário :

  1. Eu sempre tive uma relação afetiva com a música "o seu amor", cantada em 1976 pelos Doces Bárbaros (grupo formado por Caetano, Gil, Gal e Bethânia, esta última idealizadora do grupo como forma de comemorar dez anos de carreiras do quarteto baiano).

    A música consegue passar uma mensagem política e uma mensagem de amor ao mesmo tempo.

    Centrada na frase "O seu amor, ame-o e deixe-o", é uma evidente mensagem dirigida ao famigerado bordão "Brasil; ame-o ou deixe-o" da ditadura brasileira na década de 70, consegue dizer que havia quem amava o Brasil, e ainda assim o deixava.

    Mas também é um canto que homenageia o amor não egoísta, o amor que preza a liberdade do ser amado, diferentemente de muitos amores possessivos e egoístas, que, sob o pretexto da intensidade de sofrimento, querem o ser amado só para si e transformam a relação numa prisão, em que a obrigação supera o afeto.

    Sempre gostei do canto do amor verdadeiro, que, mesmo sendo arrebatador, permite que o ser amado ame como liberdade, e não como dever. É também a mensagem da música de Gil.

    Depois de escrever esse texto, achei no livro "Todas as letras", de Gilberto Gil e organizado por Carlos Rennó (Cia das letras, 1996), o comentário sobre a canção:

    " A intenção foi brincar com o slogan da ditadura, 'Ame-o ou deixe-o', promovendo, através da substituição de uma conjunção, um corte profundo de ruptura no significado reducionista, possessivista e parcial do aforismo oficial, símbolo do fechamento e da exclusão maniqueísta, para criar um outro, com outra moral, a do amor - e, portanto, absolutamente generoso, democrático e libertário. A concepção de 'amor livre' é também reiterada, reintroduzida como objeto de respeito e admiração à liberdade no amor, e ampliada até para um sentido mais cristão, de amor irrestrito.

    Minimalista já na escolha de uma máxima tão concisa e conclusa, a letra também o é na construção - na maneira como suas significações se sobrepõem como degraus de uma escada tosca, de pedreiro, somando-se com certo desejo geométrico e uma ambição de organização aritimética de fatores numa conta de adição feita com números muito simples"

    http://musicaemprosa.musicblog.com.br/295163/Doces-Barbaros-O-seu-amor-Composicao-de-Gilberto-Gil/

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